Depoimentos
WAGNER TISO: O TREM MINEIRO
Wagner Tiso traz em sua música a memória de vozes
ancestrais. É difícil distinguir e enumerar tantas fontes:
as igrejas de Minas, as melodias ciganas, as harmonias de
Villa-Lobos e de Antônio Carlos Jobim, sem falar em outros
orixás das canções do mundo. Wagner Tiso derramou essas
vozes em seu caldeirão e retirou dele uma música de extrema
originalidade, em que às vezes se expressam a alegria e suas
alegorias, outras vezes o som da mais funda melancolia.
Wagner sabe navegar pelos mares do passado, inventar o
presente e fomentar o futuro. Multiplicou-se: compositor,
orquestrador, maestro. Compôs algumas das trilhas sonoras
mais notáveis da história do cinema brasileiro, em filmes
como Ele, o Boto, A Ostra e o Vento e Jango. Foi band leader
do grupo de rock progressivo Som Imaginário, e é também
maestro de muitas aventuras sinfônicas. Em suma, um artista
sempre múltiplo, mas, paradoxalmente, igual a si.
Aqui
vão algumas amostras desse criador de proezas musicais:
A Flor e o Cais é uma canção originalmente escrita
para o cinema, depois relançada por Cauby Peixoto durante um
espetáculo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em
comemoração dos 60 anos de Wagner Tiso. Foi uma consagração.
A Lenda do Boto foi escrita para a abertura da trilha
sonora do filme Ele, o Boto, de Walter Lima Júnior, com a
qual Wagner Tiso ganhou todos os principais prêmios do
gênero. É uma fantasia sem precedentes na música brasileira,
na qual a orquestra exibe todos os seus timbres e constrói
uma arquitetura de sonho.
A Matança do Porco é um
clássico da banda Som Imaginário. A música foi composta para
o filme “Os deuses e os mortos”, de Ruy Guerra. Serviu de
inspiração para a cena em que o ator Othon Bastos luta
contra um porco, e, depois de matá-lo, desfila pelas ruas de
uma pequena cidade carregando-o às costas.
Armina é o
maior hit do Som Imaginário, em que Wagner estabelece
diálogo entre os desenhos melódicos do jazz, em ritmo de
valsa, e o rock progressivo. A orquestração e seus blocos e
progressões harmônicas se tornariam um modelo para grande
parte das futuras canções derivadas do Clube da Esquina.
Branco e Preto é um samba-jazz com sabor de gafieira.
As síncopes de sua levada são dignas de bambas como Geraldo
Pereira e Wilson Batista. Já as harmonias e improvisações
flertam com o blues.
Caso de Amor é uma parceria de
Wagner com Milton Nascimento. É uma valsa triste que, no
entanto, serve para celebrar uma amizade de mais de
cinquenta anos, desde que os dois formaram a banda “Os W’s
Boys” com um grupo de músicos cujos nomes começavam com a
letra W, inclusive o do próprio Wagner. Para se adequar aos
demais, o nome artístico de Milton mudou provisoriamente
para Wilton.
Coração de Estudante chamava-se Tema de
Jango. Foi escrita para o documentário homônimo, Jango, de
Silvio Tendler, que acompanha a trajetória do ex-presidente.
Anos depois a melodia ganhou letra de Milton Nascimento e se
tornou hino da campanha pelas “Diretas Já” e pela eleição de
Tancredo Neves, primeiro presidente eleito posteriormente à
ditadura militar.
Choro de Mãe é um choro pianístico
escrito em homenagem à mãe de Wagner, professora de piano.
Com suas modulações e sua variação de atmosferas, este
choro-canção teria encantado Pixinguinha, Ernesto Nazaré e
Tom Jobim – que, aliás, declarou diversas vezes que viu em
Wagner Tiso um de seus melhores sucessores.
Fiesta
mistura a alegria das festas populares espanholas e o
lirismo das peças para violão de Albéniz e Manuel de Falla
com o som das senzalas brasileiras.
Os Cafezais Sem
Fim é um baião cheio de remelexo em que Wagner descreve as
paisagens de sua infância. Parece um trem que atravessa os
sertões do norte das Minas Gerais. Para completar, Igreja
Majestosa é uma reencenação do universo de sua origem, com
seus cânticos, novenas e seus mistérios barrocos.
A
surpresa final do conjunto é a canção A Bela Mariana,
dedicada à musa homônima de Wagner Tiso, assim como as Liras
de Tomás António Gonzaga foram dedicadas à sua Marília de
Dirceu.
Em suma, Wagner Tiso nos mostra neste songbook
algumas de suas mil faces de criador. Como as imagens de
Mestre Ataíde e as esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, este livro comprova que sua música continuará a
tocar nossos corações desde os dias de hoje até o rock and
roll da eternidade.
Geraldo Carneiro
WAGNER TISO: O TREM MINEIRO
Wagner Tiso brings in his music the memory of
ancestral voices. It is hard to distinguish and enumerate so
many sources: the churches of Minas, the gypsy melodies, the
harmonies of Villa-Lobos and Antônio Carlos Jobim, not to
mention other orixás of the songs of the world. Wagner Tiso
poured these voices into his cauldron and transformed them
into songs of extreme originality, in which joy and its
allegories are expressed at times, and the sound of deep
melancholy at others.
Wagner is adept at navigating
the seas of the past, inventing the present, and fomenting
the future. It expanded: composer, orchestrator, and
conductor. He composed some of the most notable soundtracks
in the history of Brazilian cinema, in films such as “Ele, o
Boto”, “A Ostra e o Vento” and “Jango”. He was bandleader of
the progressive rock group Som Imaginário, and is also the
conductor of many symphonic adventures. In short, an artist
always multiple but paradoxically, equal to himself.
Here are some samples of this creator of musical
feats:
“A Flor e o Cais” is a song originally written
for the cinema. Later on it was re-released by Cauby Peixoto
during a show at the Municipal Theater of Rio de Janeiro.
This show celebrated Wagner Tiso’s 60th anniversary, it was
a consecration.
“A Lenda do Boto” was written for the
opening of the soundtrack of the film “Ele, o Boto”, by
Walter Lima Júnior, for which Wagner Tiso won all the main
awards of the genre. It is an unprecedented fantasy in
Brazilian music, in which the orchestra displays all its
timbres and builds dream architecture.
“Matança do Porco” is a classic of the band Som
Imaginário. The song was composed for the film "Os deuses e
os Mortos", by Ruy Guerra. It served as inspiration for the
scene in which actor Othon Bastos fights a pig, and, after
killing it, parades through the streets of a small town
carrying him on his back.
"Armina" is Som Imaginário's
biggest hit, in which Wagner establishes a dialogue between
jazz melodic embellishments, waltz rhythm, and progressive
rock. The orchestration, harmonic blocks, and progressions
would serve as a template for the majority of future songs
derived from the Clube da Esquina.
"Branco e Preto" is
a samba-jazz song with a "gafieira" flavor (Gafieira is a
term used in Brazil to refer to popular dances like "forró"
or "arrasta-pé", as well as the spaces where these dances
take place). Its rhythmic syncope are worthy of experts such
as Geraldo Pereira and Wilson Batista. Harmonies and
improvisations, on the other hand, flirt with the blues.
“Caso de Amor” is a partnership between Wagner and
Milton Nascimento. It's a sad waltz, but it serves to
celebrate a friendship of more than fifty years, since the
two formed the band "Os W's Boys" with a group of musicians
whose names began with the letter W, including Wagner's
name. To adapt to the others, Milton's stage name
temporarily changed to Wilton.
“Coração de Estudante”
was considered as Jango's Theme song. It was written for the
documentary of the same name, Jango, by Silvio Tendler,
which follows the trajectory of the former president. Years
later, the melody gained lyrics from Milton Nascimento and
became the anthem of the campaign for the "Diretas Já" and
the election of Tancredo Neves, the first president elected
posteriorly to the military dictatorship.
“Choro de
Mãe” is a tearful piano melody written in honor of Wagner's
mother, a piano teacher. With its modulations and its
variation of atmospheres, this cry-song would have delighted
Pixinguinha, Ernesto Nazaré and Tom Jobim - who, by the way,
declared several times that he saw Wagner Tiso as one of his
best successors.
“Fiesta” mixes the joy of the Spanish
popular festivals and the lyricism of musical piece written
for guitar by Albéniz and Manuel de Falla with the sound of
the Brazilian slave quarters.
"Os Cafezais Sem Fim" is
a rhythmically rich "baião" in which Wagner describes his
childhood landscapes. It appears to be a train traversing
the northern Minas Gerais hinterlands. To top it off,
“Igreja Magestosa” is a reenactment of its origin universe,
with its songs, novenas, and baroque mysteries.
The
final surprise of the set is the song "A Bela Mariana,"
dedicated to Wagner Tiso's homonymous muse, just as Tomás
António Gonzaga's Liras were dedicated to his muse, Marlia
de Dirceu.
In short, Wagner Tiso shows us some of his
thousand creative minds in this songbook. Like the images of
Mestre Ataíde and the sculptures of Antônio Francisco Lisboa
known as “o Aleijadinho”, this book proves that his music
will continue to touch our hearts from today to the rock and
roll of eternity.
Geraldo Carneiro
WAGNER TISO: O TREM MINEIRO
Wagner Tiso trae en su música la memoria de voces
ancestrales. Es difícil distinguir y enumerar tantas
fuentes: las iglesias de Minas, las melodías gitanas, las
armonías de Villa-Lobos y Antônio Carlos Jobim, sin
mencionar otros orixás de las canciones del mundo. Wagner
Tiso derramó estas voces en su caldera y quitó de ella una
canción de extrema originalidad, en la que a veces se
expresan la alegría y sus alegorías, otras veces el sonido
de la melancolía más profunda.
Wagner sabe navegar por
los mares del pasado, inventar el presente y fomentar el
futuro. Se ha multiplicado: compositor, orquestador,
maestro. Compuso algunas de las bandas sonoras más notables
de la historia del cine brasileño, en películas como “Ele O
Boto”, “A Ostra” y “O Vento e Jango”. Fue lider del grupo de
rock progresivo “Som Imaginário”, y también es maestro de
muchas aventuras sinfónicas. En resumen, un artista siempre
polifacético, pero, paradójicamente, igual a sí mismo.
Aquí hay algunas muestras de este creador de proezas
musicales:
“A Flor e o Cais” es una canción escrita
originalmente para el cine, luego relanzada por Cauby
Peixoto durante un espectáculo en el Teatro Municipal de Río
de Janeiro, en conmemoración de los 60 años de Wagner Tiso.
Fue una consagración.
“A Lenda do Boto” fue escrita
para la apertura de la banda sonora de la película “Ele o
Boto”, de Walter Lima Júnior, con la que Wagner Tiso ganó
todos los principales premios del género. Es una fantasía
sin precedentes en la música brasileña, en la que la
orquesta exhibe todos sus timbres y construye una
arquitectura de ensueño.
“A Matança do Porco” es un
clásico del grupo Som Imaginário. La canción fue compuesta
para la película “Os Deuses e os Mortos” de Ruy Guerra.
Sirvió de inspiración para la escena en la que el actor
Othon Bastos lucha contra un cerdo y, después de matarlo,
desfila por las calles de un pequeño pueblo llevándolo en la
espalda.
“Armina” es el mayor éxito de Som Imaginário,
en el que Wagner establece un diálogo entre los dibujos
melódicos del jazz, en ritmo de vals, y el rock progresivo.
La orquestación y sus bloques y progresiones armónicas se
convertirían en un modelo para gran parte de las futuras
canciones derivadas del “Clube da Esquina”.
“Branco e
Negro” es un samba-jazz con sabor a “gafieira” (es un
término utilizado en Brasil para designar bailes populares,
como el “forró” o el “arrasta-pé”, así como los espacios
donde se realizan los bailes). Las síncopas de su melodía
son dignas de expertos como Geraldo Pereira y Wilson
Batista. Por otro lado, las armonías e improvisaciones
coquetean con el blues.
“Caso de Amor” es una
colaboración de Wagner con Milton Nascimento. Es un vals
triste que, sin embargo, sirve para celebrar una amistad de
más de cincuenta años, desde que los dos formaron la banda
“Os W’s Boys” con un grupo de músicos cuyos nombres
comenzaban con la letra W, incluido el del propio Wagner.
Para adaptarse a los demás, el nombre artístico de Milton
cambió provisionalmente a Wilton.
“Coração de
Estudante” se llamaba “Tema de Jango”. Fue escrita para el
documental homónimo, “Jango”, de Silvio Tendler, que sigue
la trayectoria del ex presidente. Años después, la melodía
ganó la letra de Milton Nasciment, y se convirtió en el
himno de la campaña para exigir elecciones democrática
“Diretas ja”, así como para la elección de Tancredo Neves,
primer presidente elegido después de la dictadura militar.
“Choro de Mãe” es un llanto pianístico escrito en
honor a la madre de Wagner, profesora de piano. Con sus
modulaciones y su variación de atmósferas, este
llanto-canción habría encantado a Pixinguinha, Ernesto
Nazaré y Tom Jobim, quien, por cierto, declaró varias veces
que vio en Wagner Tiso uno de sus mejores sucesores.
“Fiesta” mezcla la alegría de las fiestas populares
españolas y el lirismo de las piezas de guitarra de Albéniz
y Manuel de Falla con el sonido de las senzalas brasileñas.
“Os Cafezais Sem Fim” es una canción que te inspira a
bailar en la que Wagner describe los paisajes de su
infancia. Parece un tren que atraviesa el interior del norte
de Minas Gerais. Para completar, “Igreja Majestosa” es una
recreación del universo de su origen, con sus cantos,
novenas y sus misterios barrocos.
La sorpresa final
del conjunto es la canción “A Bela Mariana”, dedicada a la
musa homónima de Wagner Tiso, así como las Liras de Tomás
António Gonzaga fueron dedicadas a su Marilia de Dirceu.
En resumen, Wagner Tiso nos muestra en este songbook
algunas de sus mil caras de creador. Como las imágenes de
Mestre Ataíde y las esculturas de Antônio Francisco Lisboa,
el Aleijadinho, este libro demuestra que su música seguirá
tocando nuestros corazones desde hoy hasta el rock and roll
de la eternidad.
Geraldo Carneiro
Ser filha do Wagner Tiso é o maior magnetismo!! Meu maestro
incomparável. Mestre e herói da minha vida e da arte do
planeta!! Que os deuses da música o embalem por toda a
eternidade. Meu canto e meu amor mais puro são inteiros para
ele e por ele!! Me cura e me salva a cada acorde. Ôh sorte!!
India Tiso
Being Wagner Tiso's daughter is the greatest magnetism! He
is my incomparable conductor. Master and hero of my life and
the art of the planet! May the gods of music rock you for
all eternity. My singing and my purest love are entirely to
him and for him! He heals me and saves me with each chord.
Oh how lucky am I!
India Tiso
Being Wagner Tiso's daughter is the greatest magnetism! He
is my incomparable conductor. Master and hero of my life and
the art of the planet! May the gods of music rock you for
all eternity. My singing and my purest love are entirely to
him and for him! He heals me and saves me with each chord.
Oh how lucky am I!
India Tiso
Wagner Tiso e seu som imaginário
Wagner Tiso,
maestro das fusões entre popular e erudito, do samba com o
jazz, do barroco mineiro com a melodia cigana, das misturas
mais criativas e harmoniosas, celebra 60 anos de uma
carreira superlativa, plural, ao mesmo tempo singular e
generosa. Antes de desbravar sua trajetória, uma das mais
expressivas da música brasileira, deixo alguns números que
ajudam a dimensionar sua importância: Tiso lançou mais de 30
discos, compôs mais de 30 trilhas, criou mais de três mil
arranjos, orquestrou mais de 15 peças autorais e ganhou mais
de 20 prêmios ao longo das seis décadas dedicadas
integralmente à música.
Da família Tiso, Wagner herdou
a original musicalidade. Conta a história que os Tiso,
peregrinos e musicais por vocação, saíram no século XIX de
Zagreb (cidade que recebeu homenagem de Wagner em forma de
música), na Croácia, cruzaram a Hungria, o norte da Itália,
o sul da Espanha e o norte da África até chegar ao Brasil,
onde enfim criaram raízes nos cafezais sem fim de Minas
Gerais (outra bonita homenagem de Tiso). Desse caldeirão
musical, sublinhando a forte influência do leste europeu,
saiu uma família com múltiplas e interessantíssimas
referências e que tem a música como base da sua identidade e
memória afetiva.
Na década de 50, o menino Wagner era
o acordeonista da família Tiso e levava sua sanfona à Rádio
Clube de Três Pontas para acompanhar os calouros. Isso
quando tinha apenas 9 anos. Talentoso, intuitivo e
autodidata desde sempre. O primeiro contrato profissional,
já como pianista e com a mesma rádio, veio em 12 de dezembro
de 1960, no dia em que completava 15 anos.
Da infância,
destaco também a herança da moda de viola, que embalava as
noites frias em volta das fogueiras nas fazendas mineiras, e
das trilhas sonoras. Havia um único cinema na região, o
trespontano Cine Ouro Verde, e era para lá que Wagner ia
todos os domingos já com seu amigo-irmão Milton
Nascimento.
Juntos, os dois descobriam a música do
mundo (em 90 Wagner lançaria o fantástico disco Baobab) e
formaram seus primeiros grupos, como o Luar de Prata, em
Três Pontas, e o W's Boys, em Alfenas, ambas no sul de
Minas. Lado a lado nos bailes da vida, Tiso e Nascimento
foram parar em Belo Horizonte no início dos anos 60, onde
mudariam a história da música brasileira junto com os amigos
do Clube da Esquina. Antes disso, também em BH, se jogaram
no jazz com o Berimbau Trio, que tinha Milton no contrabaixo
e no canto.
Ainda sobre bandas e parcerias musicais,
destaque para o incrível Som Imaginário, grupo de
jazz-rock-sinfônico-progressivo fundado nos anos 70. Era um
momento especial de encontros e novidades na música
brasileira e Tiso já deixava sua marca com enorme
personalidade e uma produção musical intensa, original e
vibrante. Seleciono aqui as composições Armina e A matança
do porco pela beleza e importância incontestáveis. Em
seguida, vieram os primeiros álbuns autorais, com músicas
belíssimas como Choro de mãe, Os cafezais sem fim, A igreja
majestosa e Sete tempos.
Agora volto um pouco no tempo
rumo ao Rio de Janeiro e sua Copacabana da década de 60.
Seguindo o sonho que embalava os músicos de sua geração,
Wagner trocou BH pelo Rio em 65 e logo ganhou espaço na
noite carioca, onde brilhavam craques como Luiz Eça, Moacir
Santos, Cauby Peixoto e Paulo Moura. Wagner é o maior
arranjador brasileiro, já dizia Paulo, seu amigo,
mestre e incentivador. Desde lá, Tiso criou milhares de
arranjos para os maiores nomes da nossa música e eternizou
seu poderoso estilo na memória do povo brasileiro.
Falando
em estilo, ressalto mais duas referências fundamentais na
obra de Tiso: Tom Jobim e Villa-Lobos, suas grandes paixões
musicais. Tiso é filho de Tom, neto de Villa, sobrinho
de Radamés, primo de Egberto e Edu Lobo, escreveu
certa vez o dramaturgo, poeta e letrista Geraldinho
Carneiro, parceiro constante de Wagner. O próprio Tom via em
Tiso um de seus melhores sucessores.
As parcerias no
cinema merecem um capítulo inteiro. Realço aqui Walter Lima
Jr. e Silvio Tendler, fundamentais na caminhada de Wagner
como um dos maiores trilheiros do Brasil. Sempre que compõe,
mesmo que não seja para cinema ou TV, Tiso imagina uma cena,
o que faz com que suas músicas sejam bastante visuais. Isso
logo chamou a atenção dos cineastas. Hoje são quase 40
trilhas e os prêmios mais importantes da categoria no
currículo.
Abro aqui um parêntese: Wagner diz que
músicas são como filhas e, portanto, é impossível escolher
uma favorita, mas me arrisco a colocar A Lenda do Boto (para
o filme Ele, o Boto, de Walter Lima Jr.) como um dos temas
de cinema mais bonitos do mundo e de todos os tempos.
Aliás,
foi no cinema que nasceu Coração de Estudante, sua canção
mais famosa. Originalmente chamada Tema de Jango, foi
composta para o filme Jango, de Silvio Tendler, e só depois
ganhou letra do parceiro de toda a vida Milton Nascimento.
Para surpresa de Tiso, virou hino da redemocratização. Como
dizem por aí: o resto é história. Uma linda historia que
celebro hoje e sempre com o maior orgulho.
Joana
Goldoni Tiso
Jornalista e filha de Wagner
Madrid,
2 de dezembro de 2022
Wagner Tiso and your som imaginário
Wagner
Tiso, conductor responsible for the fusions between popular
and erudite, of samba and jazz, of Minas Gerais baroque and
gypsy melody, of the most creative and harmonious mixtures,
celebrates 60 years of a superlative, plural career, at the
same time singular and generous. Before exploring his
trajectory, one of the most expressive in Brazilian music, I
display some numbers that could help measure his importance:
Tiso has released more than 30 albums, composed more than 30
tracks, created more than three thousand arrangements,
orchestrated more than 15 original pieces and won more than
20 awards over the six decades dedicated entirely to
music.
From the Tiso family, Wagner inherited the
original musicality. The Tisos story states that
pilgrims and musicians by vocation, left Zagreb in the 19th
century (a city that Wagner composed a tribute song),
Croatia, crossed Hungary, northern Italy, southern Spain and
the north of Africa until arriving in Brazil, where they
finally rooted in the endless coffee plantations of Minas
Gerais (another beautiful tribute by Tiso). From this
musical cauldron, underlining the strong influence of
Eastern Europe, arouse a family with multiple and very
interesting references, with music as the basis of their
identity and affective memory.
In the 1950s, young
Wagner was the accordionist of the Tiso family. He took his
accordion to Rádio Clube de Três Pontas to
accompany the freshmen. At that time he was only 9 years
old. He had always been talented, intuitive, and
self-taught. On December 12, 1960, the day he turned 15, he
received his first professional contract, this time as a
pianist for the same radio station.
Regarding his
childhood, it is important to highlight the heritage of the
viola fashion, which beguiled the cold nights around the
bonfires on farms in Minas Gerais, as well as the
soundtracks. There was only one cinema in the region, the
\"Trespontano Cine Ouro Verde,\" and Wagner went there every
Sunday with his regarded brother and friend Milton
Nascimento.
Together, they discovered the world's music
(Wagner released the fantastic album \"Baobab\" in the
1990s) and formed their first groups, such as \"Luar de
Prata\" in Três Pontas and \"W's Boys\" in Alfenas, both in
the south of Minas Gerais. Tiso and Nascimento ended up in
Belo Horizonte in the early 1960s, side by side at life's
parties, where they would change the history of Brazilian
music with their friends from \"Clube da Esquina\". Before
that, also in BH, they played jazz with the Berimbau
Trio, which had Milton on the bass and singing.
Still
about bands and musical partnerships, the highlight is the
incredible Som Imaginário, a symphonic-progressive jazz-rock
group founded in the 1970s. It was a special moment of
encounters and novelties in Brazilian music and Tiso
was already leaving his mark with an enormous personality
and an intense, original and vibrant musical production. I
have selected here the compositions Armina and
A matança do porco for their undeniable beauty
and importance. Following that were the first authorial
albums, with beautiful songs like Choro de Mãe,
Os cafezais sem fim, A Igreja
majestosa and Sete Tempos.
Now I
travel back in time to Rio de Janeiro and Copacabana in the
1960s. Wagner left BH to go to Rio in 1965, following the
dream that rocked the musicians of his generation, and
quickly made a name for himself in Rio's nightlife, where
stars such as Luiz Eça, Moacir Santos, Cauby Peixoto, and
Paulo Moura shone. Wagner is the greatest Brazilian
arranger, said Paulo, his friend, master and
supporter. Since then, Tiso created thousands of
arrangements for our music's biggest names, immortalizing
his powerful style in the memories of the Brazilian
people.
Speaking of style, I highlight two more
fundamental references in Tiso's work: Tom Jobim and
Villa-Lobos, his great musical passions. Tiso is the
son of Tom, grandson of Villa, nephew of Radamés, cousin of
Egberto and Edu Lobo, once wrote the playwright, poet
and lyricist Geraldinho Carneiro, Wagner's constant partner.
Tom himself saw in Tiso one of his best successors.
Tisos
film partnerships deserve a whole chapter. I highlight here
Walter Lima Jr. and Silvio Tendler, fundamental in Wagner's
path as one of the greatest film music composer in Brazil.
Whenever he composes, even if its not for cinema or
TV, Tiso imagines a scene, which makes his songs very
visual. This soon caught the attention of filmmakers. Today
there are almost 40 soundtracks and the most important
awards in his curriculum.
I'll insert a parenthesis
here: Wagner says that songs are like daughters, so it's
impossible to pick a favorite, but I'll take the risk of
naming \"A Lenda do Boto\" (for the film \"Ele, o Boto,\" by
Walter Lima Jr.) as one of the most beautiful soundtrack in
the world.
In fact, it was in the movies that
Coração de Estudante, his most famous song, was
born. Originally called Tema de Jango, it was
composed for the film Jango, by Silvio Tendler,
and only later received lyrics by his life partner Milton
Nascimento. To Tiso's surprise, it became a
redemocratization anthem. The rest, as they say, is history.
Definitely a lovely story that I will cherish and remember
with pride.
Joana Goldoni Tiso
Jornalist
and Wagners daughter
Madrid, 2nd of december
2022
Wagner Tiso y su auténtica sonoridad
Wagner
Tiso, maestro de las fusiones entre popular y erudito, de la
samba con el jazz, del barroco minero con la melodía gitana,
de las mezclas más creativas y armoniosas, celebra 60 años
de una carrera superlativa, plural, a la vez singular y
afable. Antes de explorar su trayectoria, una de las más
trascendentales de la música brasileña, dejo algunos números
que ayudan a dimensionar su importancia: Tiso lanzó más de
30 discos, compuso más de 30 bandas sonoras, creó más de
tres mil arreglos, orquestó más de 15 obras sinfónicas de su
autoría y ganó más de 20 premios a lo largo de las seis
décadas dedicadas íntegramente a la música.
De la
familia Tiso, Wagner heredó la auténtica musicalidad. Cuenta
la historia que los Tiso, peregrinos y filarmónicos por
vocación, salieron en el siglo XIX de Zagreb (ciudad que
recibió homenaje de Wagner en forma de música), en Croacia,
cruzaron Hungría, el norte de Italia, el sur de España y el
norte de África hasta llegar a Brasil, donde finalmente
echaron raíces en los cafetales sin fin de Minas Gerais
(otro hermoso homenaje de Tiso). De esta fuente tan
heterogénea de musicalidad, subrayando la fuerte influencia
de Europa del Este, salió una familia con múltiples y muy
interesantes referencias y que tiene la música como base de
su identidad y memoria afectiva.
En los años 50, el
niño Wagner era el acordeonista de la familia Tiso y llevaba
su acordeón a Radio Clube de Três Pontas (ciudad ubicada en
el estado de Minas Gerais) para acompañar a los
principiantes. Eso cuando solo tenía 9 años. Talentoso,
intuitivo y autodidacta desde siempre. El primer contrato
profesional, ya como pianista y con la misma radio, llegó el
12 de diciembre de 1960, el día en que cumplía 15 años.
De
la infancia también destaco la herencia del uso de la viola,
que calentaba las noches frías alrededor de las hogueras en
las granjas mineras, así como las bandas sonoras. Había un
solo cine en la región, el trespontano
(originario de la ciudad brasileña Três Pontas) Cine Ouro
Verde, y era allí donde Wagner iba todos los domingos ya en
aquel entonces su amigo-hermano Milton Nascimento.
Juntos,
los dos descubrieron la música del mundo (en el 90 Wagner
lanzaría el fantástico disco Baobab) y formaron
sus primeros grupos, como Luar de Prata, en Três Pontas, y
W's Boys, en Alfenas, ambos en el sur de Minas. Lado a lado
en los bailes de la vida, Tiso y Nascimento acabaron en Belo
Horizonte a principios de los años 60, donde cambiaron la
historia de la música brasileña junto con los amigos del
Clube da Esquina. Antes de eso, también en BH, se lanzaron
en el jazz con el Berimbau Trio, que tenía a Milton en el
contrabajo y en el canto.
También sobre grupos y
colaboraciones musicales, destaca el increíble Som
Imaginário, un grupo de jazz-rock-sinfónico-progresivo
fundado en los años 70. Era un momento especial de
encuentros y novedades en la música brasileña, y Tiso ya
dejaba su huella con una enorme personalidad y una
producción musical intensa, original y vibrante. Selecciono
aquí las composiciones Armina y A Matança
do Porco por la belleza e importancia indiscutibles.
Luego vinieron los primeros discos autorales, con hermosas
canciones como Choro de mãe, Os cafezais
sem fim, A igreja majestosa y Sete
tempos.
Ahora vuelvo un poco en el tiempo hacia
Río de Janeiro y su Copacabana de los años 60. Siguiendo el
sueño que se hacía presente en el corazón de los músicos de
su generación, Wagner cambió BH por Rio en 65 y pronto ganó
espacio en la noche de Río de Janeiro, donde brillaban
estrellas como Luiz Eça, Moacir Santos, Cauby Peixoto y
Paulo Moura. Wagner es el mayor arreglista
brasileño, dijo Paulo, su amigo, maestro e
incentivador. Desde entonces, Tiso ha creado miles de
arreglos para los nombres más grandes de nuestra música y ha
eternizado su poderoso estilo en la memoria del pueblo
brasileño.
Hablando de estilo, destaco dos referencias
fundamentales más en la obra de Tiso: Tom Jobim y
Villa-Lobos, sus grandes pasiones musicales. Tiso es
hijo de Tom, nieto de Villa, sobrino de Radamés, primo de
Egberto y Edu Lobo, escribió una vez el dramaturgo,
poeta y letrista Geraldinho Carneiro, compañero fiel de
Wagner. El propio Tom vio en Tiso uno de sus mejores
sucesores.
Las colaboraciones en el cine merecen un
capítulo entero. Destaco aquí a Walter Lima Jr. y Silvio
Tendler, fundamentales en la caminata de Wagner como uno de
los mayores compositores de Brasil. Siempre que compone,
incluso si no es para cine o televisión, Tiso imagina una
escena, lo que hace que su música sea bastante visual. Esto
pronto llamó la atención de los cineastas. Hoy en día hay
casi 40 bandas sonoras y los premios más importantes de la
categoría en el currículum.
Abro un paréntesis aquí:
Wagner dice que las canciones son como hijas y, por lo
tanto, es imposible elegir una favorita, pero me arriesgo a
poner \"A Lenda do Boto (para la película Ele, o
Boto, de Walter Lima Jr.) como uno de los temas de
cine más bellos del mundo y de todos los tiempos.
De
hecho, fue en el cine donde nació Coração de
Estudante, su canción más famosa. Originalmente
llamada Tema de Jango, fue compuesta para la
película Jango, de Silvio Tendler, y solo
entonces ganó la letra del compañero de toda la vida Milton
Nascimento. Para sorpresa de Tiso, se convirtió en un himno
de la redemocratización. Como dicen: todo lo demás es
historia. Una hermosa historia que celebro hoy y siempre con
mucho orgullo.
Joana Goldoni Tiso
Periodista
e hija de Wagner
Madrid, 2 de diciembre de 2022
Texto para Songbook de Wagner Tiso - dezembro 2022.
Por
João Marcos Veiga (jornalista e historiador)
Wagner
Tiso diz guardar um baú musical na cabeça, que ele abre logo
que precisa criar uma nova composição ou trilha sonora. Elas
repousam ali em memórias e referências sempre prontas a se
combinarem magicamente. Acessar as partituras do ansiado
songbook do artista é mais do que receber um mapa, decifrar
e navegar por temas como Coração de Estudante,
Choro de Mãe e Sete Tempos. A cada
acorde e compasso, percebe-se o próprio pulso da música
brasileira da segunda metade do século 20 que encantou o
mundo: a sofisticação sem perder a brasilidade, o diálogo de
gêneros e ritmos, o sinfônico de braços dados ao popular. O
pianista mineiro parece sintetizar como poucos tudo isso.
Wagner
é presença marcante em quase todos os momentos da vida
cultural brasileira dos últimos 50 anos. O instrumentista
correu junto de seu tempo, a ponto de sua trajetória, assim,
se confundir com a própria música brasileira nesse período:
da bossa nova às vanguardas contestatórias, do diálogo com o
jazz internacional ao reencontro com ritmos interioranos e
mestres do passado. Nesse percurso, selou uma identidade
própria e admirável. Recorrendo ao futebol, paixão que quase
se tornou ofício na pré-adolescência, podemos dizer que ele
é, sobretudo, um craque. Aquele, de raciocínio rápido, que
antecipa a jogada e cujo talento permite não só chegar à
meta desejada por todos, mas com toques de classe, requinte
e ousadia.
Os caminhos que percorreu e as influências
que guardou em seu embornal musical ao longo de mais de seis
décadas forjaram um dos maiores pianistas e arranjadores do
país, com trabalhos assinados para praticamente todos os
nomes do panteão da MPB, do final dos anos 60 em diante.
Requisitado por sua capacidade de criar atmosferas únicas,
deu roupagens modernas e deixou marcas atemporais na
sonoridade do que de melhor se produziu em nosso país - de
Milton Nascimento a Gal Costa e Djavan -, além de tecer a
identidade sonora do Clube da Esquina. Seus arranjos ampliam
o imaginário das músicas de outros compositores a tal ponto
que torna-se impossível pensá-las de outra forma.
E
mesmo com uma dedicação intensa aos arranjos e orquestrações
por décadas, na figura de maestro à frente de importantes
projetos nacionais e internacionais, o lado de compositor
sempre esteve presente com inventividade e paixão, da
infância à maturidade. No repertório dos bailes da vida da
pré-adolescência, nos anos 50, já constavam músicas de sua
autoria como Férias e Aconteceu -
esta em parceria com o amigo Bituca. Uma infinidade de
canções se perdeu na poeira de um tempo em que brincar e
tocar comungavam da mesma essência. Nos anos 1960, a bossa
nova ainda é forte referência, mas na virada para os 70,
Tiso incorpora, principalmente junto ao grupo Som
Imaginário, um novo universo musical que passa pelo rock
progressivo e instrumental contemporâneo, a exemplo de
Nova Estrela (I e II, esta com Frederyko) e
A3.
Mas é a partir de A Matança do
Porco e Armina, ainda com o grupo de rock,
que emerge a assinatura única de Wagner, transitando da
delicadeza à catarse progressiva e orquestral. Inspirados,
os primeiros álbuns autorais, na sequência, trazem ao
público pérolas como A Igreja Majestosa,
Os Cafezais Sem Fim, Zagreb e
Banda da Capital. Obras de Wagner também pontuam
os discos de Milton Nascimento e de integrantes do Clube da
Esquina sempre de forma arrebatadora, como em Caso de
Amor (letra de Bituca) e Meu Ninho (com
letra de Ronaldo Bastos e gravada por Beto Guedes).
As
criações de Wagner vão de canções que marcaram o século 20,
incluindo o hino da redemocratização, até temas eruditos e
de caráter fortemente experimental e visual. Não por acaso
encontrou-se desde cedo na artesania sonora do cinema,
respondendo por inúmeras trilhas de filmes nacionais de
destaque, tal como A Ostra e o Vento. Parte
considerável de seu cancioneiro advém de trabalhos
encomendados por cineastas, com temas que conquistaram
espaço em seus discos posteriores. Se na tela os sons
cumpriam um papel de agregar climas específicos às imagens,
músicas como Santa Efigênia,
Miranda, Chico Rei, Fantasia
Guarani, O Grande Mentecapto e
Inocência ganharam vida própria. Admirado por
diretores e documentaristas, Wagner decantou em suas trilhas
o espírito de um pesquisador astuto e inquieto. O interesse
por esmiuçar e investigar ritmos e gêneros, incluindo
aqueles ligados a sua origem cigana, renderam-lhe temas como
Fiesta, presente em novela de sucesso - outras
canções como Dona Beija também foram parar na
telinha.
Apesar da complexidade do que produziu, muitas
vezes na companhia única do piano, sua obra afasta-se
definitivamente da imagem do autor romântico isolado em seu
gênio criador. É um cancioneiro que se dá em diálogo intenso
com outros artistas e linguagens contemporâneas. São temas
que respiram os lugares e países por onde passou e morou, os
bailes da juventude, a experiência tanto de pianista da
noite quanto de arranjador, o convívio que estabeleceu com
músicos, a proximidade com a intelectualidade brasileira do
último quarto do século 20 e o uso que fez dos instrumentos
e tecnologias que se apresentavam como novidade. Nos anos 80
e 90, Tiso empreende forte investigação para além da canção
formal, junto a sonoridades de outros cantos do mundo
(Baobá) - e mesmo no palco teatral, com a
bem-sucedida opereta Manu Çuarê. Sempre
conversando com letristas, pensadores e diretores como
Henfil, Walter Lima Júnior e Geraldo Carneiro, suas
composições emergem desse contexto e trazem parceiros tão
diversos como Ferreira Gullar, Murilo Antunes, Fernando
Brant e Paulo Sérgio Valle, além de ter musicado um soneto
de Luís de Camões.
A música brasileira de Wagner
adentra a mesma floresta sonora de Villa-Lobos e Tom Jobim -
ao ouvi-los, percebemos uma profusão de sons e cantos que
afagam o espírito, mas também com descargas de trovoadas
provocativas que deslocam a paisagem comum. Um cancioneiro
que não se limita ao Brasil dos holofotes, revirando
constantemente o chão da fértil da música popular de nosso
país - O Frevo Ilumina a Cidade, \"Joga na
Bandeira\", Sambaxixe e
Olinda-Guanabara.
Nessa variedade de
gêneros que visita em suas músicas, chama a atenção, junto
ao caráter visual, uma estrutura bem acabada e de paredes
sólidas, como dos tijolos das antigas fazendas mineiras.
Fazendo uso ora do lirismo, ora do arrebatamento com
precisão e virtuosismo instrumental, Wagner parece entender
a música espacialmente, conhecendo praticamente todos os
caminhos e o lugar a ser ocupado por cada instrumento e
músico. E dessa construção, ele está sempre apto a revistar
paisagens do passado com novas cores e mirar o horizonte
desconhecido e em constante reinvenção da música.
Transitando com naturalidade do cerne da MPB e instrumental
internacional às orquestras, o artista ocupa um lugar
singular em nossa música, tal qual sua trajetória pessoal.
Natural de Três Pontas, Wagner Tiso é parte de uma
família de forte veia artística, descendente de ciganos do
leste europeu e que abarcou no sul de Minas através do avô
italiano em busca da sorte nos cafezais sem fim da região.
Boa parte dos tios e tias cultivava a atuação musical,
profissional ou amadora. Essa vivência estava presente em
festas familiares, bandas de carnaval, serenatas e
performances em rádios e teatros - o grupo de primos tocando
acordeon fazia sucesso pelas cidades da região. Não só um
cotidiano em que a música estava sempre por perto, mas com
formalidade através da mãe Walda Tiso Veiga, professora de
piano que levava a sério a educação musical dos filhos entre
aulas para a vizinhança e fornadas de pão de queijo para a
família em Três Pontas e depois Alfenas. Um conhecimento que
trazia solidez, mas pedia novos saltos ao que ele realmente
aspirava. Entediado, colocava por vezes improvisações em
escalas e arpejos, para desespero da mãe. A música pra ele
tinha calor e convidava ao desconhecido.
Na simpática
cidade interiorana, a inspiração também brotava das fazendas
mineiras onde passava férias junto à família Veiga do pai,
Francisco, e de toda a cultura rural do entorno
(Mata-burro). Uma música, assim, que se
manifestava socialmente e corporalmente nas ruas, terreiros,
quintas e clubes, porém também num ouvido interno que
memorizava o que chegava pelas ondas do rádio, o que se
ouvia de trilhas no Cine Ouro Verde e nas orquestras e
grupos que passavam pelo Clube Literário e Recreativo de
Três Pontas. Com matéria-prima tão rica e talento na ponta
do dedo, a diversão era propor novos arranjos ao que se
escutava e tocava, com abertura de vozes e acordes modernos
ao acordeon e piano. Essa capacidade de dominar a música de
uma época, tê-la como base, mas também de reinventá-la, está
no cerne dessa geração, sobretudo na figura de Wagner e
Bituca, e em tudo que ela fez e compôs.
Sem deixar
passar cavalo arreado, como se diz em Minas, Wagner seguiu
para Belo Horizonte e depois ao Rio, com destaque ao
aprendizado da orquestração moderna na casa do amigo Paulo
Moura. Com uma bagagem musical tão pesada e espírito leve, a
música do artista mineiro chegou rapidamente aos principais
festivais de jazz internacionais logo nos anos 1970 e,
depois, aos ouvidos e corações de pessoas do Brasil e do
mundo com consistência, vigor e beleza. Um cancioneiro único
forjado pelo trem mineiro e cosmopolita de Wagner Tiso.
Wagner Tisos Songbook - december 2022.
By João
Marcos Veiga (jornalist and historian)
Wagner
Tiso says he has a huge musical chest in his mind, which he
opens as soon as he needs to create a new composition or
soundtrack. They settle in his memories and these references
are always ready to magically combine. To access these
scores from the artist's longed-for songbook is more than
receiving a map, deciphering and navigating through themes
such as Coração de Estudante, Choro de
Mãe and Sete Tempos. With each chord and
measure, one perceives the very pulse of Brazilian music
from the second half of the 20th century that enchanted the
world: sophistication without losing its Brazilianness, the
dialogue of genres and rhythms, the symphonic hand in hand
with the popular. The pianist from Minas Gerais seems to
synthesize all of this like few others.
Wagner has a
strong presence in almost every moment of Brazilian cultural
in the last 50 years. The instrumentalist ran alongside his
time, to the point of his trajectory being baffled with
Brazilian music itself in this period: from Bossa
Nova (is a Brazilian musical genre that was influenced
by samba and American jazz) to the contesting vanguards,
from the dialogue with international jazz to the reunion
with the countryside rhythms and masters of the past. Along
the way, he sealed his identity as unique and admirable.
Resorting to football, a pre-adolescent passion that almost
became a craft; we can say that he is, above all, a
playmaker. The one who thinks quickly, anticipates moves,
and possesses the talent to not only achieve the goal
desired by all, but to do so with touches of class,
refinement, and daring.
For over more than six decades,
the paths he took and the influences he carried in his
musical luggage shaped one of the country's greatest
pianists and arrangers, with works signed by practically
every name in the MPB pantheon from the late 1960s onward.
Requested for his ability to create unique atmospheres, it
gave modern clothes and left timeless marks on the sound of
the best music produced in our country - from Milton
Nascimento to Gal Costa and Djavan -, moreover generating
the sound identity of Clube da Esquina. His arrangements
expand the imagination of other composers' songs to such an
extent that it becomes impossible to think of them in any
other way.
And even having for decades an intense
dedication to arrangements and orchestration, as a conductor
he was a head of important national and international
projects, his composer's side has always been present with
inventiveness and passion, from his childhood to adulthood.
In the repertoire of pre-adolescent parties, in the 1950s,
there were already songs written by him such as
Férias and Aconteceu a
partnership with his friend Bituca. Infinity of songs were
lost in the ashes of a time when having fun and playing
songs were synonymous. In the 1960s, bossa nova was still a
strong reference, but at the turn of the 70s, Tiso
incorporated, mainly with the group Som
Imaginário, a new musical universe that included
progressive rock and contemporary instrumentals, such as
Nova Estrela (I and II, this one with Frederyko)
and A3.
But it is from A Matança do
Porco and Armina, still with the rock
group, that Wagner's distinct signature emerges, moving from
a delicate sound to a progressive and orchestral catharsis.
Inspired, the first authorial albums, in the sequence, bring
to the public pearls such as A Igreja Majestosa,
Os Cafezais Sem Fim, Zagreb and
Banda da Capital. Wagner's works also punctuate
the records of Milton Nascimento and members of Clube da
Esquina, always in a breathtaking way, as in Caso de
Amor (lyrics by Bituca) and Meu Ninho
(with lyrics by Ronaldo Bastos and recorded by Beto Guedes
).
Wagner's creations range from songs that marked the
20th century, including the redemocratization anthem, to
erudite themes with strong experimental and visual
characteristics. It was not by chance that he became
involved in film sound artistry at a young age, being
responsible for numerous soundtracks for notable national
films such as \"A Ostra e o Vento.\" A considerable part of
his songbook comes from works commissioned by filmmakers,
with themes that gained space on his later albums. On screen
sounds played a role in adding specific moods to the images,
songs like Santa Efigênia, Miranda,
Chico Rei, Fantasia Guarani, O
Grande Mentecapto and Inocência acquired a
life of their own. Admired by directors and documentarians,
Wagner decanted in his soundtracks the spirit of an astute
and restless researcher. His interest in exploring and
investigating rhythms and genres, including those linked to
his gypsy origin, gave him songs like \"Fiesta\", featured
in a successful soap opera - other songs like \"Dona Beija\"
also ended up on screen.
Despite the complexity of what
he produced, often with only the company of the piano, his
work definitely distances itself from the image of the
romantic author isolated in his creative genius mind. It is
a songbook that portrayers an intense dialogue with other
artists and contemporary languages. These are themes that
resonate with the places where he went, the dances of his
youth, his experience both as a night pianist and as an
arranger, the contact he established with musicians, his
proximity to the Brazilian intellectuality of the last
quarter of the 20th century and the use he made of new
instruments and technologies. In the 80s and 90s, Tiso
undertook a strong investigation beyond formal song, along
with sounds from other corners of the world
(Baobá) - and even on the theatrical stage, with
the successful operetta Manu Çuarê. Always
talking to lyricists, thinkers and directors such as Henfil,
Walter Lima Júnior and Geraldo Carneiro, his compositions
emerge from this context and feature partners as diverse as
Ferreira Gullar, Murilo Antunes, Fernando Brant and Paulo
Sérgio Valle, in addition to having set a sonnet by Luís
from Camões.
Wagner's Brazilian music enters the same
sound forest of Villa-Lobos and Tom Jobim - when listening
to them, we perceive a profusion of sounds and songs that
caress the spirit, but also always with a discharge of
provocative thunderstorms that displace the common
landscape. A songbook that surpasses the Brazilian spotlight
hits; constantly turning the soil of the fertile music of
our country from all regions - O Frevo Ilumina a
Cidade, Sambaxixe and
Olinda-Guanabara.
In this variety of genres
that he explores in his songs, what stands out, along with
the visual character, is a well-finished structure with
solid walls, like the bricks of old farms in Minas Gerais.
Making use sometimes of lyricism, sometimes of rapture with
precision and instrumental virtuosity, Wagner seems to
understand music spatially, knowing practically all the
paths and the place to be occupied by each instrument and
musician. And from this construction, he is always able to
revise past landscapes with new colors and aim at the
unknown horizon and in constant reinvention of music. Moving
naturally from the core of MPB and international instruments
to orchestras, the artist occupies a unique place in our
music, just like his personal trajectory.
Born in Três
Pontas, Wagner Tiso is part of a family with a strong
artistic vein, descended from Eastern European gypsies who
came to the south of Minas Gerais through their Italian
grandfather in search of luck in the region's endless coffee
plantations. Most uncles and aunts cultivated musical
performance, professional or amateur. This experience was
present at family parties, carnival bands, serenades and
performances on radios and theaters - the group of cousins
playing the accordion was very successful in the cities of
the region. Not only an everyday life in which music was
always close by, but formality through his mother Walda Tiso
Veiga, a piano teacher who took the musical education of her
children seriously between classes for the neighborhood and
making cheese bread for the family in Três Pontas and then
Alfenas. A knowledge that brought solidity, but asked for
new leaps to what he really aspired to. Bored, he improvised
in scales and arpeggios, much to his mother's despair. For
him, music was warm and invited the unknown.
In the
friendly countryside town, inspiration also came from the
farms where he spent holidays with the Veiga family of his
father, Francisco, and from the surrounding rural culture
(Mata-burro). A music that manifested itself
socially and bodily in the streets, terreiros
(big piece of rural land), farms and clubs, but also in an
inner ear that memorized what arrived as radio waves, what
was heard from soundtracks at Cine Ouro Verde and in the
orchestras and groups that passed through the Literary and
Recreational Club of Três Pontas. With such rich raw
material and talent at the tip of his finger, the fun was
proposing new arrangements to what was heard and played,
with opening voices and modern chords to the accordion and
piano. This capacity to dominate the music of a time, to
have it as a base, but also to reinvent it, is at the heart
of this generation, especially in the figure of Wagner and
Bituca, and in everything that this generation did.
Not
allowing a harnessed horse (cavalo arriado,
meaning good opportunities) pass by, as they say in Minas,
Wagner went to Belo Horizonte and then to Rio, with emphasis
on learning modern orchestration at the house of his friend
Paulo Moura. With such a heavy musical baggage and a light
spirit, the artist's music reached the main jazz festivals
in the world in the 1970s and then reached the world with
consistency, vigor and beauty. A unique songbook forged by
Wagner Tiso's Minas Gerais and cosmopolitan train.
Texto para Songbook de Wagner Tiso Diciembre 2022
Por
João Marcos Veiga (periodista e historiador)
Wagner
Tiso dice guardar una caja fuerte de música en la cabeza,
que abre tan pronto necesita crear una nueva composición o
banda sonora. Reposan como recuerdos y referencias, que
están siempre listos para combinarse mágicamente. Acceder a
las partituras del anhelado songbook del artista es más que
recibir un mapa, descifrar y navegar por temas como
Coração de Estudante, Choro de Mãe y
Sete Tempos. A cada acorde y compás, se nota el
propio pulso de la música brasileña de la segunda mitad del
siglo 20 que encantó al mundo: la sofisticación sin perder
la brasilidad, el diálogo de géneros y ritmos,
el sinfónico de la mano al popular. El pianista
minero parece sintetizar como pocos todo
esto.
Wagner es una presencia notable en casi todos los
momentos de la vida cultural brasileña de los últimos 50
años. El instrumentista evolucionó junto a su tiempo, hasta
llegar al punto en que su trayectoria se confundió con la
propia música brasileña en este período: desde la
bossa nova (Baile popular y festivo típico de
Brasil, de movimiento vivo con influencias del jazz; es una
modalidad de samba brasileña) hasta las vanguardias
contestatarias, desde el diálogo con el jazz internacional
hasta el reencuentro con ritmos folclóricos y maestros del
pasado. En este camino, selló una identidad propia y
admirable. Haciendo referencia al fútbol, una pasión que
casi se ha convertido en su oficio en la preadolescencia,
podemos decir que es, sobre todo, un crack: razonamiento
rápido, que anticipa la jugada y cuyo talento permite no
solo llegar a la meta deseada por todos, pero que llega con
toques de clase, perfección y audacia.
Los caminos que
recorrió y las influencias que guardó en su equipaje musical
durante más de seis décadas crearon uno de los mejores
pianistas y arreglistas del país, con obras firmadas para
prácticamente todos los nombres del panteón de la MPB
(Música Popular Brasileña) a partir de los años 60.
Solicitado por su capacidad para crear atmósferas únicas,
concedió aspectos modernos y dejó marcas atemporales en la
sonoridad de lo mejor que se produjo en nuestro país - desde
Milton Nascimento hasta Gal Costa y Djavan -, además de
establecer la identidad sonora del Clube da Esquina. Sus
arreglos amplían el imaginario de las canciones de otros
compositores hasta tal punto que se hace imposible pensarlas
de otra manera.
E incluso con una intensa dedicación a
los arreglos y orquestaciones durante décadas, en la figura
de maestro al frente de importantes proyectos nacionales e
internacionales, la figura de compositor siempre ha estado
presente con originalidad y pasión, desde la infancia hasta
la madurez. En el repertorio de los bailes de la vida de la
preadolescencia, en los años 50, ya había canciones de su
autoría como Férias y Aconteceu
esta, colaboración con su amigo Bituca. Una multitud
de canciones se perdieron en la nube de un tiempo en el que
jugar y tocar compartían la misma esencia. En la década de
1960, la bossa nova sigue siendo una fuerte
referencia, pero a finales de los 70, Tiso incorpora,
principalmente junto al grupo Som Imaginário, un nuevo
universo musical que pasa por el rock progresivo e
instrumental contemporáneo, como Nova Estrela (I
y II, esta con Frederyko) y A3.
Pero es a
partir de A Matança do Porco y
Armina, todavía con el grupo de rock, que surge
la carrera solo de Wagner, pasando de la delicadeza a la
catarsis progresiva y orquestal. Inspirados, los primeros
álbumes de autor, en seguida, traen al público perlas como
La Igreja Majestosa, Os Cafezais Sem
Fim, Zagreb y Banda da
Capital. Las obras de Wagner también puntúan los
discos de Milton Nascimento y de los miembros del Clube da
Esquina siempre de forma arrebatadora, como en Caso de
Amor (letra de Bituca) y Meu Ninho (con
letra de Ronaldo Bastos y grabada por Beto Guedes).
Las
producciones de Wagner van desde canciones que marcaron el
siglo 20, incluido el himno de la redemocratización, hasta
temas eruditos y de carácter fuertemente experimental y
visual. No por casualidad se encontró desde temprana edad en
la banda sonora del cine, siendo responsable por numerosas
bandas sonoras de películas nacionales de éxito, como
A Ostra e o Vento. Una parte considerable de su
cancionero proviene de trabajos encargados por cineastas,
con temas que ganaron espacio en sus discos posteriores. Si
en la pantalla las canciones cumplían un papel de agregar
significados específicos a las imágenes, canciones como
Santa Efigênia, Miranda, Chico
Rei, Fantasia Guarani, O Grande
Mentecapto y Inocencia ganaron vida
propia. Admirado por directores y documentalistas, Wagner
agregó a sus bandas sonoras el espíritu de un investigador
astuto e inquieto. El interés por analizar e investigar
ritmos y géneros, incluidos los relacionados con su origen
gitano, le dio temas como Fiesta, presente en
una novela de éxito - otras canciones como Dona
Beija también terminaron en la pantalla.
A pesar
de la complejidad de lo que produjo, a menudo con la
compañía única del piano, su obra se aleja definitivamente
de la imagen del autor romántico aislado en su genio
creador. Es un cancionero que se da en diálogo intenso con
otros artistas y lenguajes contemporáneos. Son temas que
reflejan los lugares por los que pasó, los bailes juveniles,
la experiencia tanto de pianista nocturno como de
arreglista, la convivencia que estableció con músicos, la
proximidad a la intelectualidad brasileña del último cuarto
del siglo 20 y el uso que hizo de los instrumentos y
tecnologías que se presentaban como novedad. En los años 80
y 90, Tiso entabla una fuerte investigación más allá de la
canción formal, junto con sonidos de otros rincones del
mundo (Baobá) - e incluso en el escenario
teatral, con la exitosa opereta Manu Çuarê.
Siempre hablando con letristas, pensadores y directores como
Henfil, Walter Lima Júnior y Geraldo Carneiro, sus
composiciones emergen de este contexto y traen colaboradores
tan diversos como Ferreira Gullar, Murilo Antunes, Fernando
Brant y Paulo Sérgio Valle, además de haber musicalizado un
soneto de Luís de Camões.
La música brasileña de Wagner
entra en el mismo paisaje sonoro de Villa-Lobos y Tom Jobim
- al escucharlos, percibimos una exuberancia de sonidos y
cantos que acarician el espíritu, pero también siempre con
descarga de tormentas provocativas que desplazan el paisaje
común. Un cancionero que no se limita al Brasil desde el
centro de atención, girando constantemente el suelo de la
fértil música de nuestro país de todas las regiones -
O Frevo Ilumina a Cidade, Sambaxixe
y Olinda-Guanabara.
En esta variedad de
géneros que visita en sus canciones, llama la atención,
junto con el carácter visual, una estructura bien acabada y
de paredes sólidas, como los ladrillos de las antiguas
granjas mineras. Haciendo uso a veces del lirismo, a veces
del ímpetu con precisión y virtuosismo instrumental, Wagner
parece entender la música espacialmente, conociendo
prácticamente todos los caminos y el lugar a ocupar por cada
instrumento y músico. Y de esta construcción, siempre es
capaz de explorar paisajes del pasado con nuevos colores y
apuntar al horizonte desconocido y en constante reinvención
de la música. Transitando con naturalidad desde el corazón
de la MPB e instrumental internacional a las orquestas, el
artista ocupa un lugar singular en nuestra música, así como
su trayectoria personal.
Natural de Três Pontas, Wagner
Tiso es parte de una familia de fuerte vena artística,
descendiente de gitanos de Europa del Este y que aterrizó en
el sur de Minas a través de su abuelo italiano en busca de
la suerte en los cafetales sin fin de la región. La mayoría
de los tíos y tías cultivaban la actuación musical (de
manera profesional o como principiante). Esta vivencia se
hizo presente en fiestas familiares, grupo de carnaval,
serenatas y actuaciones en radios y teatros - el grupo de
primos que tocaban acordeón tuvo éxito en las ciudades de la
región. No solo una vida cotidiana en la que la música
siempre estaba cerca, pero también con seriedad a través de
su madre Walda Tiso Veiga, profesora de piano que se tomó en
serio la educación musical de sus hijos entre clases para el
vecindario y hornos de pan de queso para la familia en Três
Pontas y luego Alfenas. Un conocimiento que traía solidez,
pero pedía nuevos saltos a lo que realmente aspiraba.
Aburrido, ponía improvisaciones en escalas y arpegios, para
desesperación de su madre. La música para él le calentaba el
corazón e invitaba a lo desconocido.
En la simpática
ciudad del interior, la inspiración también brotaba de las
granjas donde pasaba vacaciones con la familia Veiga de su
padre, Francisco, y de toda la cultura rural de los
alrededores Mata-burro. Una música que se
manifestaba social y corporalmente en las calles, patios,
granjas y clubes, pero también en un oído interno que
memorizaba lo que llegaba a través de las ondas de radio, lo
que se escuchaba de las pistas en el Cine Ouro Verde y en
las orquestas y grupos que pasaban por el Clube Literário e
Recreativo de Três Pontas. Con una materia prima tan rica y
talento en la punta del dedo, la diversión era proponer
nuevos arreglos a lo que se escuchaba y tocaba, con apertura
de voces y acordes modernos al acordeón y piano. Esta
capacidad de dominar la música de una época, tenerla como
base, pero también de reinventarla, está en la esencia de
esta generación, sobre todo en la figura de Wagner y Bituca,
y en todo lo que hace.
Sin dejar pasar cavalo
arreado (buenas oportunidades), como se dice en Minas,
Wagner se dirigió a Belo Horizonte y luego a Rio de Janeiro,
destacando el aprendizaje de la orquestación moderna en la
casa de su amigo Paulo Moura. Con un cargado equipaje
musical y un espíritu tenue, la música del artista llegó
rápidamente a los principales festivales de jazz del mundo
en la década de 1970, y después a los oídos y corazones de
las personas de Brasil y del mundo con consistencia, vigor y
belleza. Un cancionero único concebido por el tren minero y
cosmopolita de Wagner Tiso.
A grandiosidade da obra e da carreira de Wagner Tiso são
credenciais mais do que suficientes para que o Governo do
Estado do Rio de Janeiro, através da FUNARJ, realize este
projeto.
É uma iniciativa que nos orgulha. Nele temos
a valorização do artista, a preservação do seu trabalho e a
democratização do acesso a um repertório rico e fundamental
para a compreensão da nossa identidade.
Tudo isso é
atribuição da FUNARJ. Há mais de 40 anos, a Fundação apoia e
estimula os artistas. E assim seguirá fazendo.
José
Roberto Gifford
Presidente da Fundação Anita Mantuano
de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ)
Wagner Tisos Songbook - december 2022.
By João
Marcos Veiga (jornalist and historian)
Wagner
Tiso says he has a huge musical chest in his mind, which he
opens as soon as he needs to create a new composition or
soundtrack. They settle in his memories and these references
are always ready to magically combine. To access these
scores from the artist's longed-for songbook is more than
receiving a map, deciphering and navigating through themes
such as Coração de Estudante, Choro de
Mãe and Sete Tempos. With each chord and
measure, one perceives the very pulse of Brazilian music
from the second half of the 20th century that enchanted the
world: sophistication without losing its Brazilianness, the
dialogue of genres and rhythms, the symphonic hand in hand
with the popular. The pianist from Minas Gerais seems to
synthesize all of this like few others.
Wagner has a
strong presence in almost every moment of Brazilian cultural
in the last 50 years. The instrumentalist ran alongside his
time, to the point of his trajectory being baffled with
Brazilian music itself in this period: from Bossa
Nova (is a Brazilian musical genre that was influenced
by samba and American jazz) to the contesting vanguards,
from the dialogue with international jazz to the reunion
with the countryside rhythms and masters of the past. Along
the way, he sealed his identity as unique and admirable.
Resorting to football, a pre-adolescent passion that almost
became a craft; we can say that he is, above all, a
playmaker. The one who thinks quickly, anticipates moves,
and possesses the talent to not only achieve the goal
desired by all, but to do so with touches of class,
refinement, and daring.
For over more than six decades,
the paths he took and the influences he carried in his
musical luggage shaped one of the country's greatest
pianists and arrangers, with works signed by practically
every name in the MPB pantheon from the late 1960s onward.
Requested for his ability to create unique atmospheres, it
gave modern clothes and left timeless marks on the sound of
the best music produced in our country - from Milton
Nascimento to Gal Costa and Djavan -, moreover generating
the sound identity of Clube da Esquina. His arrangements
expand the imagination of other composers' songs to such an
extent that it becomes impossible to think of them in any
other way.
And even having for decades an intense
dedication to arrangements and orchestration, as a conductor
he was a head of important national and international
projects, his composer's side has always been present with
inventiveness and passion, from his childhood to adulthood.
In the repertoire of pre-adolescent parties, in the 1950s,
there were already songs written by him such as
Férias and Aconteceu a
partnership with his friend Bituca. Infinity of songs were
lost in the ashes of a time when having fun and playing
songs were synonymous. In the 1960s, bossa nova was still a
strong reference, but at the turn of the 70s, Tiso
incorporated, mainly with the group Som
Imaginário, a new musical universe that included
progressive rock and contemporary instrumentals, such as
Nova Estrela (I and II, this one with Frederyko)
and A3.
But it is from A Matança do
Porco and Armina, still with the rock
group, that Wagner's distinct signature emerges, moving from
a delicate sound to a progressive and orchestral catharsis.
Inspired, the first authorial albums, in the sequence, bring
to the public pearls such as A Igreja Majestosa,
Os Cafezais Sem Fim, Zagreb and
Banda da Capital. Wagner's works also punctuate
the records of Milton Nascimento and members of Clube da
Esquina, always in a breathtaking way, as in Caso de
Amor (lyrics by Bituca) and Meu Ninho
(with lyrics by Ronaldo Bastos and recorded by Beto Guedes
).
Wagner's creations range from songs that marked the
20th century, including the redemocratization anthem, to
erudite themes with strong experimental and visual
characteristics. It was not by chance that he became
involved in film sound artistry at a young age, being
responsible for numerous soundtracks for notable national
films such as \"A Ostra e o Vento.\" A considerable part of
his songbook comes from works commissioned by filmmakers,
with themes that gained space on his later albums. On screen
sounds played a role in adding specific moods to the images,
songs like Santa Efigênia, Miranda,
Chico Rei, Fantasia Guarani, O
Grande Mentecapto and Inocência acquired a
life of their own. Admired by directors and documentarians,
Wagner decanted in his soundtracks the spirit of an astute
and restless researcher. His interest in exploring and
investigating rhythms and genres, including those linked to
his gypsy origin, gave him songs like \"Fiesta\", featured
in a successful soap opera - other songs like \"Dona Beija\"
also ended up on screen.
Despite the complexity of what
he produced, often with only the company of the piano, his
work definitely distances itself from the image of the
romantic author isolated in his creative genius mind. It is
a songbook that portrayers an intense dialogue with other
artists and contemporary languages. These are themes that
resonate with the places where he went, the dances of his
youth, his experience both as a night pianist and as an
arranger, the contact he established with musicians, his
proximity to the Brazilian intellectuality of the last
quarter of the 20th century and the use he made of new
instruments and technologies. In the 80s and 90s, Tiso
undertook a strong investigation beyond formal song, along
with sounds from other corners of the world
(Baobá) - and even on the theatrical stage, with
the successful operetta Manu Çuarê. Always
talking to lyricists, thinkers and directors such as Henfil,
Walter Lima Júnior and Geraldo Carneiro, his compositions
emerge from this context and feature partners as diverse as
Ferreira Gullar, Murilo Antunes, Fernando Brant and Paulo
Sérgio Valle, in addition to having set a sonnet by Luís
from Camões.
Wagner's Brazilian music enters the same
sound forest of Villa-Lobos and Tom Jobim - when listening
to them, we perceive a profusion of sounds and songs that
caress the spirit, but also always with a discharge of
provocative thunderstorms that displace the common
landscape. A songbook that surpasses the Brazilian spotlight
hits; constantly turning the soil of the fertile music of
our country from all regions - O Frevo Ilumina a
Cidade, Sambaxixe and
Olinda-Guanabara.
In this variety of genres
that he explores in his songs, what stands out, along with
the visual character, is a well-finished structure with
solid walls, like the bricks of old farms in Minas Gerais.
Making use sometimes of lyricism, sometimes of rapture with
precision and instrumental virtuosity, Wagner seems to
understand music spatially, knowing practically all the
paths and the place to be occupied by each instrument and
musician. And from this construction, he is always able to
revise past landscapes with new colors and aim at the
unknown horizon and in constant reinvention of music. Moving
naturally from the core of MPB and international instruments
to orchestras, the artist occupies a unique place in our
music, just like his personal trajectory.
Born in Três
Pontas, Wagner Tiso is part of a family with a strong
artistic vein, descended from Eastern European gypsies who
came to the south of Minas Gerais through their Italian
grandfather in search of luck in the region's endless coffee
plantations. Most uncles and aunts cultivated musical
performance, professional or amateur. This experience was
present at family parties, carnival bands, serenades and
performances on radios and theaters - the group of cousins
playing the accordion was very successful in the cities of
the region. Not only an everyday life in which music was
always close by, but formality through his mother Walda Tiso
Veiga, a piano teacher who took the musical education of her
children seriously between classes for the neighborhood and
making cheese bread for the family in Três Pontas and then
Alfenas. A knowledge that brought solidity, but asked for
new leaps to what he really aspired to. Bored, he improvised
in scales and arpeggios, much to his mother's despair. For
him, music was warm and invited the unknown.
In the
friendly countryside town, inspiration also came from the
farms where he spent holidays with the Veiga family of his
father, Francisco, and from the surrounding rural culture
(Mata-burro). A music that manifested itself
socially and bodily in the streets, terreiros
(big piece of rural land), farms and clubs, but also in an
inner ear that memorized what arrived as radio waves, what
was heard from soundtracks at Cine Ouro Verde and in the
orchestras and groups that passed through the Literary and
Recreational Club of Três Pontas. With such rich raw
material and talent at the tip of his finger, the fun was
proposing new arrangements to what was heard and played,
with opening voices and modern chords to the accordion and
piano. This capacity to dominate the music of a time, to
have it as a base, but also to reinvent it, is at the heart
of this generation, especially in the figure of Wagner and
Bituca, and in everything that this generation did.
Not
allowing a harnessed horse (cavalo arriado,
meaning good opportunities) pass by, as they say in Minas,
Wagner went to Belo Horizonte and then to Rio, with emphasis
on learning modern orchestration at the house of his friend
Paulo Moura. With such a heavy musical baggage and a light
spirit, the artist's music reached the main jazz festivals
in the world in the 1970s and then reached the world with
consistency, vigor and beauty. A unique songbook forged by
Wagner Tiso's Minas Gerais and cosmopolitan train.
The grandeur of Wagner Tiso's work and career have itself
more than enough credits for the Government of the State of
Rio de Janeiro, through FUNARJ, to execute this project.
It
is an initiative that we are proud of. We recognize in this
songbook the appreciation of the artist, the preservation of
his work and the democratization of access to a rich and
fundamental repertoire for the understanding of our
identity.
All of this is attribution of FUNARJ. For
over 40 years, the Foundation has supported and encouraged
artists. FUNARJ will continue to do so.
José
Roberto Gifford
President of Fundação Anita Mantuano de
Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ)
A grandiosidade da obra e da carreira de Wagner Tiso são
credenciais mais do que suficientes para que o Governo do
Estado do Rio de Janeiro, através da FUNARJ, realize este
projeto.
É uma iniciativa que nos orgulha. Nele temos
a valorização do artista, a preservação do seu trabalho e a
democratização do acesso a um repertório rico e fundamental
para a compreensão da nossa identidade.
Tudo isso é
atribuição da FUNARJ. Há mais de 40 anos, a Fundação apoia e
estimula os artistas. E assim seguirá fazendo.
José
Roberto Gifford
Presidente da Fundação Anita Mantuano
de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ)
This songbook is the result of 10 years of research and
dedication, but also of love, companionship, friendship,
affection and complicity with the pianist, conductor,
arranger, composer and Maestro Wagner Tiso. The idea for
this project arose from the greatness of his work,
throughout 60-years of his successful career, as well as the
need for this musical legacy to be immortalized and
accessible to future generations. Over the course of eight
years, I dedicated myself to this project with zeal and
passion. There were many challenges, both in research and
production, but I was always in sync with the brilliant
Maestro, who accompanied me with great enthusiasm and
collaborated in everything, providing advice, support, and
encouragement.
Congratulations, Wagner Tiso, for your
dreamed songbook. I would like to thank Fundação Anita
Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro
(Funarj) through President José Roberto Guiffor and his
entire team, who made this dream come true. Just in time to
celebrates the 50th anniversary of the release of the first
LP by Clube da Esquina, a musical movement in which Wagner
Tiso was one of the protagonists. Thank you to everyone who
is with us on this journey.
Mariana Lisboa Tiso,
producer
Este songbook es el resultado de 10 años de investigación y
dedicación, pero también de amor, compañerismo, amistad,
cariño y complicidad con el pianista, director, arreglista,
compositor y maestro Wagner Tiso. La idea de este proyecto
nació ante la grandeza de la obra creada por él, a lo largo
de sus 60 años de exitosa carrera, pero también de la
necesidad de que este legado musical fuera eternizado y
estuviera disponible para las generaciones futuras. A lo
largo de ocho años, me dediqué a este proyecto con esfuerzo
y pasión, se enfrentaron muchas dificultades tanto en la
investigación como en la producción, pero siempre estuve en
sintonía con el brillante maestro, que me acompañaba con
gran entusiasmo y colaboraba en todo dando su testimonio, su
apoyo y aval.
Felicitaciones Wagner Tiso por su tan
soñado libro de canciones, agradezco a la Fundación Anita
Mantuano de Artes del Estado de Río de Janeiro - (Funarj) a
través del presidente José Roberto Guiffor y todo su equipo,
que hizo realidad este sueño, en el año en que se celebran
los 50 años del lanzamiento del primer LP del Clube da
Esquina, movimiento musical en el que Wagner Tiso fue uno de
los protagonistas. Gracias a todos los que están con
nosotros en este camino.
Mariana Lisboa Tiso,
productora
E tinha a família Tiso, que eu ficava meio assim, por
que tudo era Tiso, música só Tiso. E tem um amigo nosso que
chegou e falou: Bituca vou chamar o Wagner Tiso para
tocar com você, para fazer música, para tudo. E ele é
diferente dos outros da família Tiso. E eu e o Wagner
morávamos na mesma rua em Três Pontas e ele me falou que
passava em frente à minha casa e ouvia o som da minha
sanfoninha e dos quatro baixos e falava: esse cara é
diferente. E o Dida falou para mim, que o Wagner era
diferente. E era mesmo.
O Wagner tinha um lance de
achar que eu era cantor e que eu precisava de gente que me
acompanhasse a cabeça, o ouvido e tudo. E o primeiro foi o
Wagner. E teve vários pianistas, várias coisas assim, mas
igual a Wagner, ninguém.
E depois teve o Clube da
Esquina e falaram, que foi considerado o disco mais
importante na música brasileira.
Wagner, não foge de
mim, não, para estar sempre comigo, por que você faz parte
daqui! (E toca o lado esquerdo do peito).
Milton
Nascimento Rio de Janeiro 2022
And there was the Tiso Family, which I was kind of like,
because everything was Tiso, music only Tiso. And there's a
friend of ours who came and said: Bituca I'm going to
call Wagner Tiso to play with you, to make music, for
everything. And he is different from the others in the Tiso
Family.
Wagner and I lived on the same street in
Três Pontas and he told me that he would pass by my house
and hear the sound of my accordion and the four basses and
once Wagner said: this guy is different. Dida
told me that Wagner was different, and he was.
Wagner
had a tendency to think that I was a singer and that I
needed people to follow my head, ears and everything. And
the first one was Wagner. And there were several pianists,
several things like that, but like Wagner, nobody.
And
then there was Clube da Esquina and they said it was
considered the most important record in Brazilian music.
Wagner
cant run away from me, he will always be with me,
because he belongs here! And he touches the left side of the
chest (In reference to the song Canção da
America).
Milton Nascimento Rio de
Janeiro 2022
Y había la familia Tiso, que me rayaba un poco porque
todo era Tiso, música solo Tiso. Y hay un amigo nuestro que
llegó y dijo: Bituca voy a invitar a Wagner Tiso para
tocar contigo, para hacer música, para todo. Y él es
diferente a los demás de la familia Tiso. Y Wagner y
yo vivíamos en la misma calle en Três Pontas y me dijo que
pasaba frente a mi casa y escuchaba el sonido de mi acordeón
y los cuatro bajos y decía: este tipo es
diferente. Y Dida me dijo que Wagner era diferente. Y
realmente lo era.
Wagner estaba seguro de que yo era
cantante y que necesitaba gente que me acompañase la cabeza,
el oído y todo. Y el primero fue Wagner. Y hubo varios
pianistas, así como otras cosas del tipo, pero como Wagner,
nadie.
Y luego surgió el Clube da Esquina
que fue considerado el disco más importante de la música
brasileña.
Wagner, no huyas de mí, estate siempre
conmigo. ¡Por qué eres parte de aquí! (Y toca el lado
izquierdo del pecho).
Milton Nascimento -
Río de Janeiro 2022